Capitão diz que usou expressão 'chimpanzé adestrado' em discussão com subordinado, mas sem intenção de ofendê-lo
01/08/2024
O capitão de Mar e Guerra da reserva da Marinha João Ricardo Reis Lessa foi ouvido nesta quinta-feira (1º) na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. Ele é acusado pelo cabo Pedro Jorge da Rocha, que é negro e foi seu subordinado na Amazul, de racismo. João Ricardo Reis Lessa foi ouvido nesta quinta-feira (1º) na Decradi
Patrick Rozário/TV Globo
O capitão de Mar e Guerra da reserva da Marinha João Ricardo Reis Lessa disse que usou a expressão "chimpanzé adestrado" durante uma discussão de trabalho com um subordinado, mas sem a intenção de ofendê-lo.
"Que o declarante esclarece que usou a expressão 'chimpanzé adestrado' em relação a Pedro Joge ("Da Rocha") mas não de cunho racial, apenas fazendo referência a alguém que realiza uma tarefa simples de forma automatizada."
Pedro está sendo investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) do Rio por suspeita de discriminação racial contra Pedro Jorge da Rocha, que é negro. Ele prestou depoimento na manhã desta quinta-feira (1º).
Após o depoimento na Decradi, o capitão não quis falar sobre o caso.
Ao g1, o advogado Gabriel de Alencar Machado, que faz a defesa de João Ricardo, disse que 'tudo foi esclarecido' e que seu cliente nega ter cometido racismo.
A discussão
A discussão aconteceu na estatal Amazul, empresa de tecnologia nuclear da Marinha. Após o ocorrido, João Ricardo pediu desligamento da estatal, mas continuou trabalhando na Cluster Tecnológico Naval-RJ, empresa que também é ligada à Marinha. Ele é oficial de proteção de dados.
O caso aconteceu há dois meses, quando o cabo Rocha estava para completar 8 anos de serviços na Marinha. Segundo Rocha, ele exercia a função de motorista e tinha como seu chefe direto o capitão Lessa.
Na ocasião, seu superior determinou que ele fosse buscar um documento em outro setor. Chegando lá, o documento contava com um anexo que parecia não ser parte do pedido. Rocha questionou, mas foi orientado a levar a encomenda do jeito que estava. Ele teria sido ofendido após deixar o documento na mesa do chefe.
"Quando ele chegou, ele virou assim: 'quem deixou esse documento?' Eu falei: 'Eu'. 'Vem aqui, ô seu chimpanzé. Você não sabe ler, não?'", teria dito o capitão.
"'Você é um não-verbal, um chimpanzé, um animal que não sabe ler'. Aí eu fiquei meio sem entender. (o capitão teria continuado) 'Tira essa p* aqui da minha mesa'. Ele falou desse jeito", contou Pedro Rocha.
'Ironia', disse capitão em depoimento
A Amazul informou que abriu uma investigação interna para apurar os fatos narrados por Pedro Rocha.
No procedimento, três funcionários que testemunharam o fato confirmaram o relato de Pedro. Segundo as testemunhas, o capitão da reserva chamou Pedro de "chimpanzé adestrado, que não pensa".
Em depoimento anterior, João Ricardo Lessa tinha confirmado que chamou o cabo de chimpanzé. Contudo, ele disse que não foi com intenção de ofender e que o comentário foi de maneira irônica. Durante a investigação interna feita pela Amazul, o capitão Lessa pediu desligamento da empresa.